segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Cicatrizes (Texto qualquer de um dia qualquer)



No começo tudo é muito bonito, você liga, ele atende. Não somente atende, como entra na sua vida de maneira avassaladora, dai tu perde o chão, cheio de paixão para dar e pensa consigo mesmo: Puta que pariu! Encontrei o amor de minha vida ou a sua metade como preferir. Mas não é só isso, ele te invade, te perturba, se instala, fica como uma árvore presa ao solo. Pode ser você também que não o deixa partir, lembre-se carência é uma merda. Ai controla os passos do cidadão, a ponto de não soltar da mão quando ele precisa sair, enfim, alguém precisa urgentemente se controlar para não achar que o outro é posse. Quando o outro precisa sair sozinho e seu olhar não está lá, com certeza o telefone não vai parar de tocar e os torpedos vão vibrar no bolso de cada um e a cada segundo, e acreditem isso é muito bom no começo, pois não passa de uma paixão gostosa. Fora as promessas que são feitas de maneira tão verdadeira e tão bonita e na fragilidade desse sentimento ambos acreditam no conto perfeito.

Dai vem a primeira briguinha e um acusa o outro de estar sufocando, depois o celular não toca tanto e os torpedos começam a ficar escassos, outro dia ele prefere ficar em casa estudando a ir em seu apartamento ou sair com os amigos depois de uma sexta feira estressante e você fica a ver navios. O que era divertido traz outra sensação, até que um dia ele te envia uma mensagem dizendo que vocês precisam conversar e você pensa: O que aconteceu? O que eu fiz? e mais um monte de pensamentos bobos e mais blá blá blá. E quando essa conversa acontece tudo se desestabiliza e você perde o chão. Onde estão as mensagem e a juras de amor? Quando você soltou a mão dele(a) quando saiu de sua casa? E os filhos que vocês planejaram ter? A casa que vocês montaram na cabeça antes de se concretizar? Isso não é fácil de suportar, pois não foi um simples romance, você se doou, ele(a) também e agora tudo não passa de ruínas e o que fica no coração é uma dor incessante que rasga o seu peito ao meio e coloca agulhas fincadas sobre teu coração, mas essa não funciona como tratamento acupunturista e sim como lâminas que nos fere em extremos e na sua razão você se fecha por inteiro. Essas são as famosas cicatrizes.

Conquistamos tantas coisas boas como o respeito ao próximo, respeito as etnias, respeito as orientações sexuais, liberdade de expressão, igualdade para todos, casamentos gays sendo aceitos na sociedade que vivemos, mas ainda assim vivemos uma submissão emocional, as pessoas feridas por algo que não deu certo por muito tempo acabam se trancando e quando não se trancam vivem o inverso de tentar controlar os próprios sentimentos e quando esse te invade com firmeza acabam relacionamentos que poderiam ser duradouros simplesmente por medo de tentar o novo, simplesmente porque a cicatriz do peito ainda não sarou por completo. Lembre-se que não precisamos de outras pessoas para sermos felizes, se é feliz sozinho, claro que dependemos de outras pessoas para um monte de atividades na vida e essa fusão que torna as coisas mais claras para todos, por exemplo: sexo com outra pessoa é melhor que masturbação (se bem que já teve punhetas melhores que alguns sexo por ai), uma companhia agradável para o teatro ou cinema, o casaco que te aquece num dia qualquer de inverno, a tampa da azeitona que não conseguiu abrir, mas lembre-se que esses são momentos de felicidade e não necessariamente sua felicidade.

Claro que existe cupidos negligentes e eu acho que ainda posso dizer cegos, tem uns que fazem umas merdas irremediavelmente corrigidas por ai e por causa de um monte deles não nos abrimos novamente, nos encasulamos dentro de nossos curativos e não nos permitimos viver outra coisa boa, um momento único. Acredite que o tempo passa e eu espero que descubra que a vida passa rápido logo e não quando estiver velho ao se olhar no espelho de seu quarto antigo junto com suas coisas antigas que não servirão para nada quando partir desse mundo. Cicatrizes não são para nos lembrar marcas feias, mas para levarmos uma certeza conosco de que uma ferida esteve ali, mas sarou. Não demore tanto tempo para se recompor. Não estou pedindo para arrancar os curativos de suas cicatrizes, mas lembre-se que existe outros lados do seu coração para colocar mais curativos e eu espero muito que não precise colocá-los do outro lado também. Eu só acho que chega uma hora em que temos que criar coragem para arriscar novamente e quando seu coração acelerar não deixe de se jogar. Eu escolhi sempre tentar e você vai ficar se limitando?


Diógenes Ramos (Didikayan)

2 comentários:

Anônimo disse...

Cada dia você tem superado minhas expectativas nos seus textos meu lindo, adoroooooo cada dia mais e sempre venho aqui ter overdose de leitura, escreve mais, escreva muito, escreva sempre.

Paulo Henrique.

Espaço Mente Corpo Estética Terapias Alternativas disse...

me vi nessa foto sentada lendo seus textos...muito bom

Livros - Diógenes Ramos

  • Cicatrizes - Toda Forma de Amor
  • No Meu Céu
  • O Violinista
  • O Bailarino