terça-feira, 24 de novembro de 2015

O Veado e o Deputado



Por essa o tal deputado não esperava,
Homem casado e com três filhos nas costas,
Usava o dinheiro do povo como bem queria.
Mas esse em especial,
Gostava de comer veadinhos as escondidas.
E foi numa dessas reuniões da vida,
Dessas que não chegam a decisão nenhuma,
Que ele viu ao longe um belo rapaz,
Pernas torneadas e bunda avantajada,
Peitoral aberto e sorriso descontraído.
Sem conter o seu impulso, logo se aproximou e disse:
Mas que jovem lindo,
E de cabelo liso ainda.
Vem garoto, vem ser minhas horas de reunião,
Vem que eu te mostro o que é ser quente,
Vem ser minha desculpa,
Vem ser meu motivo de mais compromissos e gastos desnecessários.
Te coloco em um apartamento, pago roupas, contas e você ficará à minha espera.
Vou ser teu chamego, teu eixo, teu caos,
Vem garoto e diz que quer ser meu,
Vem rebolar em mim, fazer acontecer, se mexer,
Mas minha esposa não pode saber,
Comigo tu vai esquecer trabalho, horários, favela.
Vem ser meu escravo, meu tormento, meu pasto,
Depois te levo para passear, gastar e até jantar.
Eu tenho dinheiro para te fazer o veado mais feliz desse mundo,
Comigo não irá se preocupar com nada.
Tenho grana para algumas vidas.
Mas terás que prometer que será só meu.
E ai quer vir?
Então depois de ouvir toda aquela asneira,
O jovem se levantou todo sorridente e disse:
Escute aqui meu senhor:
Não precisa fazer nada disso,
Pois sua corrupção natural não se cura trepando com nenhum veado,
Não vai ser um deputado bandido que vai curar essa ferida do país,
Senhor deputado assim como você,
Que mete a mão nos cofres públicos,
E roubam dinheiro de pessoas honestas como nós,
Dinheiro que reservamos para educar nossas crianças,
Que vai me comprar com sua lábia mal elaborada.
Escute aqui deputado:
Eu me lembro do esforço que fiz para estudar,
Das marmitas que levava, porque o dinheiro não dava para comer na rua,
Enquanto você se fartava com banquetes sem ter completado o ensino médio,
Tente escrever outra história deputado,
Porque não é me levando para jantar,
Ou me colocando em um apartamento e pagando minhas despesas,
Que seus erros serão redimidos,
Agora se afasta de mim,
E nunca mais insista nisso,
Pois o seu cheiro me enoja,
Sua habilidade de roubar vira meu estômago,
Porque deixar de ser um bandido, caro deputado, não é comendo um veado.


Texto: O Veado e o Deputado
De: Diógenes Ramos   


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