segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Monólogo De Um Assassinado


Eu não era uma pessoa normal. Certamente isso pesou muito para que eu fosse tirado da terra. Eu era livre de regras, de rótulos e do medo. Na minha pobre lógica eu buscava apenas ser feliz. 
Sinceramente eu não entendo como as pessoas defendem uma ideia e matam por ela.
Não entendeu nada não é mesmo? Calma, eu explico.
Eu era o primeiro de minha turma, tinha uma inteligência assustadora, era um exemplo para minha família. Minha mãe só recebia elogios sobre mim. Estava prestes a concluir minha faculdade, e sim, eu era muito bonito, pelo menos algumas pessoas diziam isso (risos). Ah, já estava me esquecendo, eu, dentre todas essas qualidades, também era gay.
Era uma manhã linda de domingo. Decidi passear no parque com uns amigos e meu namorado. Tinha vinte dois anos quando isso aconteceu, o sol estava lindo aquele dia, eu lembro o cheiro do verde acredita? Os pássaros cantavam livremente, então de repente, sem que ninguém esperasse aquela reação, eu tirei os chinelos e saí correndo pelo jardim. Todos me olharam e riram. Alguns pensaram que eu estava ficando louco, outros que estava bêbado, mas eu só estava feliz. Felicidade são os momentos bons da vida, e aquele era um dos meus melhores.
Eu me lembro que meu namorado veio até a mim e me beijou na frente de todos que estavam ali. Aquele beijo foi lindo, então eu falei:

-Me beija de novo, pois estou adoecido de amor.

Sem se importar com quem estava ao redor ele me abraçou e fez mais uma vez e eu correspondi. Depois olhou nos meus olhos e disse:

-Fica comigo para sempre que eu viro o vento, me escolhe, me ame, me leve.

Eu estou tentando esquecer essa cena, mas desculpe-me, esse registro vai ficar gravado para sempre em minhas recordações, pois foi um dos últimos de minha vida.
Naquela mesma manhã eu morri de uma forma brutal. E sabe qual foi o meu erro? Eu era gay. A minha felicidade não me deixou perceber que entre as árvores, uma sombra escura observava minhas atitudes. Eu nunca me preocupei com o ser gay e nem com o que os outros fossem pensar. Dos meus problemas, esse era o menor. Eu sou o que eu sou e isso para mim bastava, mas não é assim que a maioria pensa. 
Eu só queria que esse câncer social fosse extinto antes que aconteça com outros o que aconteceu comigo.
Eu me lembro que fui pegar uma água. Meus amigos ficaram deitados na grama. Caminhei sorridente entre as árvores até chegar a outra parte do parque, e sem que eu percebesse, aquela sombra me seguiu, quando estava quase alcançando o outro lado, uma voz atrás de mim disse que eu não merecia estar sobre essa terra. Quando me virei senti uma pancada muito forte sobre minha cabeça e caí no chão. Não conseguindo me mexer ouvia apenas uma voz muito distante dizendo que eu deveria morrer e não viver para contar história, pois "bichinhas" como eu não deveria nem ter nascido. Então senti mais duas pancadas sobre minha cabeça e apaguei para sempre.
Não deu tempo de gritar, não deu tempo de pedir socorro e eu fiquei ali jogado no chão, com a cabeça toda ensanguentada e o socorro de que precisava só veio quando os meus amigos sentiram minha falta e foram me procurar, mas já era tarde demais.
Eu morri aquele dia, mas não foi só eu, minha família, meu amigos e os meus sonhos.
Não morri somente por ser gay, morri porque eu aceitei ser feliz.

Cuidado! Infelizmente ainda têm muitos desses por ai e não quero que aconteça com você o que aconteceu a mim.



Texto: Monólogo De Um Assassinado 
De: Diógenes Ramos

sábado, 2 de novembro de 2013

O Anel


Não vai doer se me tirar o anel cravejado de diamante,
Coisa pior você fez com o meu coração,
Vão os anéis, ficam-se os dedos.
E como um prêmio você guardou o meu coração na sua coleção,
Suspirou como um vencedor por ter conseguido o seu troféu. 
Dói saber que ainda sou um romântico.
Ai de mim que sou assim.
Me senti rejeitado,
Mas eu darei a volta por cima,
Eu sempre dei voltas longas,
Mas te agradeço por me mostrar um novo caminho.
Vou viver como um robô,
Seguir a partir de hoje sozinho,
Garantir que não ficarei prostrado,
E o que eu posso dizer a partir de agora é:
Pena que você não me quis.
Não pulei de um precipício por muito pouco,
Mas é isso que eu digo, baby,
É uma pena que você não me quis,
Porque você valeria por mil prêmios que eu ganharia,
E se pudesse ao menos me dar um dia me amando de verdade,
Eu seguraria o meu orgulho,
E viveria esse dia sem nem olhar no relógio.
Mas agora é tarde demais para dizer que te amo.
Por que o tempo não voltará jamais.




Texto: O Anel
De: Diógenes Ramos

Livros - Diógenes Ramos

  • Cicatrizes - Toda Forma de Amor
  • No Meu Céu
  • O Violinista
  • O Bailarino