terça-feira, 25 de agosto de 2015

O Animal



Estranhamente ontem eu vi um animal,
Fiquei horrorizado com a forma medíocre em que se encontrava.
Sentado na calçada, ele comia restos de algo indecifrável.
Não se preocupava com o que era,

Não separava nada,
Apenas queria saciar sua fome.
Fiquei parado no trânsito a observá-lo,
O animal estava completamente sujo,
Fedido,
Faminto.
As pessoas que passavam na calçada,
Andando próximas ao animal, não ligavam para ele,
Eles não tinham medo dele,
Era como se aquele animal fosse completamente invisível.
E o próprio animal, de tão esquecido, também se achava transparente.
Pela sujeira que tinha no seu corpo,
Tenho para mim que ele há muito não se banhava,
Quando o farol abriu,
Um carro buzinou atrás de mim e eu voltei a realidade,
A realidade de também esquecer aquela cena,
Como todas que passavam ali fizeram,
Mas o que mais me preocupava em vê-lo ali,
É que aquele animal se parecia com qualquer um de nós,

Com olhos, boca, nariz, braços e pernas.
Porque aquele animal era um homem.








Texto: O Animal,
De: Diógenes Ramos
Adaptação: O bicho de Manuel Bandeira.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Histórias Inventadas



Quando você apareceu, acreditei que tudo iria ser diferente,
Você veio cavalgando em um cavalo branco,
E eu pensei comigo mesmo que príncipes encantado existiam,
E em pouco tempo nós já estávamos juntos,
Fazendo planos que já não eram só meus.
Dava um frio na barriga só de pensar que aquilo não era apenas palavras,
Era eu e você e nossos sonhos.
Lembro-me do quanto eu te queria perto de mim,
Parecia que o perto não era suficiente,
Quando saía para trabalhar eu ficava contando as horas para que voltasse.
E quando eu sabia que estava chegando, era como se o meu mundo ficasse completo.
Aos poucos eu te contei os meus segredos,
Meus medos,
Minhas ambições.
E com poucos meses você já conhecia mais de mim do que o meu próprio diário.
Parecia que nossas almas estavam entrelaçadas desde a antiguidade,
Mesmo com a maldade do mundo nosso amor continuava vivo.
Mas na noite passada acordei dentro de um manicômio,
Me disseram que essas histórias são fruto de minha imaginação,
Eu não quero acreditar nisso, pois é a única coisa que ainda me mantem vivo,
Lúcido,
Ou louco.
Mas com tantos remédios eu estou começando à acreditar neles,
Estou me perdendo no que era real e no que eu inventei,
Da minha janela com grades eu olho o sol lá fora e fico imaginando que um dia virá me buscar.
Penso no meu diário em cima da cabeceira de minha cama,
Cama que nós fizemos amor,
E quando a noite chega eu me sinto tão sozinho aqui,
Viro de um lado e o sono não vem,
Mudo e nada acontece.
Só te peço uma única coisa:
Se tiveres sido real, me tire dessa loucura, pois não sei se isso são coisas inventadas ou reais.
Sinto que é uma história complicada e eu nem sei o porquê.
Eu sei que você está em algum lugar lá fora,
Em algum lugar longe.


Texto: Histórias Inventadas,
De: Diógenes Ramos.


Livros - Diógenes Ramos

  • Cicatrizes - Toda Forma de Amor
  • No Meu Céu
  • O Violinista
  • O Bailarino