sábado, 31 de agosto de 2013

Mariana, rosa?




Minha princesinha nasceu ontem. Todos ficaram encantados com a sua beleza. Quartinho rosa, bonecas espalhadas por todo o quarto. Também, no quarto mês de gravidez de minha esposa, sua mãe já nos enchia de presentes para esperar a sua tão sonhada netinha. A princípio era sua única neta, então deveria mesmo ser paparicada.

Quando eu e minha esposa saímos do hospital e chegamos em casa, uma festa estava a nossa espera. Todos admiravam a beleza da minha filha. Realmente eu devo admitir que acertei no ponto. A gozada foi preparada com vigor.
Eram roupinhas lindas, a maioria de um rosa delicado ou um roxinho claro. Um amigo da família foi logo dizendo que ela casaria com o seu filho e que ambos teriam filhos lindos e por consequência também teríamos netos com seus traços.

Acontece que o tempo foi passando e minha filha cada dia ficava mais linda. Foi educada para cuidar da casa e de seus filhos como toda mulher deveria ser criada. As bonecas compradas pela minha esposa e a maioria pela sua avó eram motivo de incentivo para ela ser uma menininha comportada. 
E os lacinhos na cabeça e pompons parecidos com os da Xuxa? Isso não se comparava a nada.

Na adolescência uns diziam: ela será uma linda modelo, outros falavam, uma mãe exemplar, ainda tinham aqueles que achavam que seria uma princesa, mas aos doze anos de idade eu comecei a observar em minha filha um comportamento diferente ao que estávamos acostumados.
As bonecas foram encaixotadas e deixadas dentro do depósito que tínhamos em casa. O quarto rosa foi pintado de azul clarinho. Seu cabelo liso foi cortado curtinho. Suas roupas parecidas com as das princesas da Disney foram trocadas por calças jeans ou shorts cortados por ela mesma.

Todos olhavam para ela estranhamente, até mesmo minha esposa começou cobrar mais dela para que se parecesse com uma mocinha. Que aquelas roupas não eram de menina e que deveria muda-las. 
Eu somente sorria por dentro quando ela falava para eu conversar com nossa filha. A única coisa que queria era que ela encontrasse o seu caminho e descobrisse o segredo da felicidade. Mas numa manhã, depois de uma discussão no quarto com minha esposa, eu chamei minha filha para almoçarmos juntos, somente nós dois.

No almoço eu ria com o jeito que ela falava, era uma maneira peculiar e que me chamava atenção. Então não resisti e perguntei se tinha algo que estava acontecendo e se ela queria desabafar. Ela me olhou como vendo em mim uma figura de confiança, chegou mais perto de e perguntou se eu a amava de verdade. Eu com um olhar terno, respondi que a amava mais que tudo em minha vida. Depois ela se virou um pouco envergonhada e disse sem medo da reação que nunca gostou de bonecas, odiava a cor rosa e que estava gostando da amiguinha da escola.

Eu com um sorriso no rosto disse para ela que eu sabia desde sempre, mas que pudesse confiar em mim, pois caso fosse necessário eu enfrentaria o mundo todo somente para que ela pudesse ser feliz da forma que achava correto.
Naquele almoço conheci mais sobre minha filha do que em uma vida inteira que passamos juntos. Na volta, ainda dentro do carro intrigado com o que ela havia me dito, perguntei:

-Mariana, você não gosta mesmo da cor rosa?
-Rosa? Não papai, eu não gosto!



Texto: Mariana, rosa?
De: Diógenes Ramos

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