quarta-feira, 12 de dezembro de 2007


Monologo: vejam isso, eu vi primeiro.

Era quase uma hora da madrugada de sábado pra domingo e eu estava na sacada do meu apartamento quando de repente me aparece um casal na rua discutindo uma relação que a meu ver já deveria ter acabado há muito tempo, mas vocês vão me entender o que aconteceu que me fez esperar duas horas da minha preciosa noite, mas não fazia mal porque eu estava com insônia mesmo e participar daquela briga sem dar nenhum palpite foi à coisa mais legal que me aconteceu no dia, ou melhor, na noite, mas agora vê, o marido estava quieto e a mulher aos berros perguntando se ele tinha mesmo ficado com a filha de Margarida, mas quem é mesmo essa Margarida que ela tanto falava? E a mulher berrava como se quisesse que toda vizinhança escutasse aquilo e ainda perguntava uma coisa e outra sem que desse tempo de o marido responder a menos uma.
E o pegador do marido parecia uma mosca morta, não respondia nada e ainda ficava fazendo zunido para que ela calasse aquela matraca; e parecia que ele é daqueles maridos que ama até a empregada da mesma forma que ama a esposa, e o bom da história é que ela se sentou em um jardim que fica em frente a minha sacada, ele continuou em pé, foi onde deu pra assistir de camarote, mas parecia que só tinha eu e eles dois, porque nenhuma luz, nem do meu prédio nem dos prédios vizinhos acendia pra ver àquela confusão, só mesmo as luzes dos quartos dos adolescentes que passam madrugadas em salas de bate-papo, mas esses não contam porque eles não iriam sair mesmo pra ver brigas de marido e mulher não é mesmo?

-Você ta ou não me traindo Henrique? Me fala logo de uma vez homem! Ou só ta enrolando a mim e a filha de Margarida?
- Olha deixa eu falar...
- Não tem que falar nada não Henrique, só responde o que to te perguntando logo de uma vez.
- Mulher da pra falar mais baixo ou quer que todo mundo escute o que você ta falando?
- Num quero nem saber seu safado, você sempre foi assim.
- Mulher eu posso...?
- Não pode nada! A única coisa que eu quero que você faça, é responder a minha pergunta. Cê ta ou não me traindo com a Susana, Henrique?
- Ta bom você hoje ta pedindo, então prepara o ouvido pra o que eu tenho que falar...
- Olha Henrique eu vou te falar uma coisa se você acha que vai sair impune disso...
- Porra! Deixa-me falar e cala essa boca.

E não é que o Henrique que se manteve calmo até agora se espinhou como um porco selvagem, mas ela tava querendo mesmo ouvir tudo aquilo, porque era muito chata e ainda parecia que não queria ouvir a verdade.

- Você sabe né Jandira, quando eu te conheci ainda estava com 17, na flor da juventude, cuspindo hormônio, você com seus 38, era bonita e bem arrumada e fudia feito uma cadela quando quer trepar, eu nem liguei pra nada porque o que eu queria mesmo você me dava, que era casa, comida e muito sexo, mas os tempos se passaram Jandira e agora eu já to com 35, ainda com a mesma saúde e vigor de um menino de 17, mas você Jandira, você ta com seus 56, quase 57, fode uma vez na semana e olha lá! e quando eu te procuro você fica me rejeitando e inventando suas dores de cabeça...
- Então é isso que você pensa de mim seu canalha?
- Calma sua vaca eu ainda to falando...

Nunca sabia que no meu bairro existiam pessoas com aquele nível, mas o Henrique se revoltou e falava bem mais alto do que a vaca, como ele mesmo tinha definido minutos atrás e ele gritava com ela como grita com um cachorro. E agora mudou tudo, ele era quem não estava mais nem ai pra ninguém.

- Deixa eu terminar sua cadela velha...você sabia, eu sabia e todos nós sabíamos que o próprio tempo iria nos separar, insistimos porque somos ousados e o que gostávamos mesmo era de cama e isso era o que sustentava o nosso relacionamento, mas ai me aparece a Susana cheia de vigor e muito bonita me dando mole e você acha que eu não iria sair com ela?
- por favor Henrique não me deixe
- não sou eu que vou te deixar mulher, pelo contrario é você que vai sair e não eu.
- pera ai...como que é esse negocio de quem vai sair sou eu?
- é isso mesmo aquela casa é minha e eu comprei com o dinheiro da herança do meu pai.
- mas somos casados em comunhão de bens
- sim, somos sim, mas até que a papelada fique pronta, quem vai sair é você e não eu.
- Henrique você vai mesmo me recauchutar dessa forma é? E como fica nós dois ehn? Eu te amo! Por favor Henrique.
- não tem, por favor mais não Jandira, agora quem não te quer sou eu.
- tudo bem Henrique, se você quer assim.

E a mulher parou de gritar e eu achando que aquela conversa já tinha acabado, mas olha no que deu...ela me pegou uma coisa brilhante da bolsa e eu pensando que fosse alguma coisa pra entregar pro descarado do Henrique, mas era uma arma e ela gritou!!

- pare onde você está e me diz tudo o que você me disse agora seu pilantra
- Jandira pense em nós, por favor!
- pensar em nós quem? Porque era só eu há alguns minutos atrás, e agora você vem me dizer pra pensar em nós, você ta louco?
- Jandira eu só falei aquilo porque você estava me irritando muito, mas não é nada disso que você está pensando.
- ai é que está seu cretino, eu não estou pensando nada agora, eu vou acabar com essa porcaria que você chama de vida.

Nessa altura de campeonato eu me arrependi de ter participado de toda aquela conversa, mas ninguém tinha me visto, então eu preferi continuar quieto sem que eles se assustassem, ou melhor, sem que ela se assustasse para não sobrar pra mim, mas tive medo dela fazer alguma coisa, foi quando pensei em levantar e entrar na conversa, mas olha no que deu.

- Jandira não faça isso, olhe o tempo que estamos juntos.
- já falei pra ficar quieto, eu estava com meus 38 quando te conheci, na flor da juventude, cuspindo vigor e adorava trepar com você, mas ai eu sabia do tempo e sabia também que ele só iria nos separar; daí eu preferi esperar a porcaria do tempo pra quando você acabasse com a minha vida você não tivesse a sua pra saber o que fez comigo.
- Jandira...
- cala sua boca Henrique, onde está aquele homem valente de cinco minutos atrás? Minha nossa! Como a vida é engraçada não é mesmo Henrique? Veja só, eu aqui me lamentando porque você iria me abandonar e você agora implorando para que eu não te mate.
- Jandira eu sempre quis ficar com você, mas se pararmos pra pensar na realidade em que estávamos vivendo, perceberemos que realmente isso não iria nos levar a lugar nenhum e...
- As cartas estão a meu favor agora Henrique e não diga mais nenhuma palavra, ou melhor, diz sim, mente para mim, diga que me ama e que não consegue viver sem mim.
- eu não vou fazer isso Jandira.
- mente vai, só mais uma vez, diga que me deseja como sua mulher.
- tudo bem Jandira! Eu só queria que você soubesse que tudo que vivemos juntos foi bom, eu te amei de verdade, eu te amo, eu não sei viver sem você, minha vida não tem graça nenhuma sem você por perto, fica pra sempre comigo.

E não é que o safado do Henrique começou a chorar e fazer tudo como se aquilo fosse verdade, eu é que não estava entendendo mais nada. E a conversa do casal maluco continuou, mas veja só o que ela falou agora.

- você é um mentiroso seu cretino, eu não acredito em uma só palavra que você me disse.
- mas não foi você que pediu para que eu mentisse para você Jandira?
- eu não quero mais saber de você.
- Jandira não vá, eu não sei viver sem você, eu não quero viver sem você.

A briga termina agora... mas vejam o que eu passei naquela madrugada

- e ai Mauricio, como foi o nosso ensaio?
- muito bom Eliana, você foi excepcional, nunca sabia que ensaiando na rua você conseguiria viver realmente o papel como viveu agora, muito bom mesmo, parabéns!

E eu sem nada entender, ou entendendo tudo, levantei de onde estava na minha sacada e comecei aplaudir o casal que me surpreendeu com aquela encenação.

_ Puxa! Vocês foram fantásticos, e eu acreditei que tudo isso fosse verdade, minha nossa foi muito bom!

E o casal sem nada a entender grita da praça e pergunta:

- você estava ai desde o inicio?
- Sim, eu estava.
- minha nossa! Desculpas, não queríamos atrapalhar o seu sono, mas já que gostou, muito obrigado!

E Eliana sem nada a dizer com vergonha pega sua arma e coloca na bolsa novamente, e os dois saem sem eu nunca mais saber onde eles iriam fazer aquela bela apresentação, mas com certeza será um belo espetáculo!

Texto de Diógenes Ramos (didikayan)

2 comentários:

Chart Smart disse...

NICE Blog :)

MERRY CHRISTMAS :)

Nair Santana disse...

Olhaaaaaaaa.......
Se isto tivesse sido escrito de novembro/2012 para cá... Eu diria que você se inspiro no altor do Saga do Crepúsculo Amanhecer - Parte 2.
Mas o gostoso foi que li esperando o final do texto com muito curiosidade....

Mais uma vez valeu.....

Livros - Diógenes Ramos

  • Cicatrizes - Toda Forma de Amor
  • No Meu Céu
  • O Violinista
  • O Bailarino