Nasci no interior da
Bahia. Fruto de um casamento verdadeiro de pais cristãos. Nunca passei
necessidade de nada e cresci nos embalos de uma família feliz e de um lar
centrado. Parecia mais um cordeiro. Até que descobri no banheiro vendo revistas adultas que aquele pasto não era pra mim. Daí perdi o freio e o que acontece depois foi
moldado o meu caráter.
Lar
cristão o caramba. Esquece quase todo o parágrafo acima. Vou começar novamente
essa história, pois não foi bem assim que aconteceu.
Meus
pais nem chegaram a casar. Sou fruto apenas de uma boa trepada em um quarto
alugado nos fundos de uma casa velha. Minha mãe acreditava que tinha encontrado
o príncipe encantado, e bem ali, naquele quarto fedendo mofo com suas paredes
úmidas ela se entregou ao meu pai como quem entrega sua alma a sabe lá quem.
Para ela era o começo de
um grande sonho, para ele era somente mais gozada gostosa que não foi ao ralo
do banheiro.
O
romance duraria pouco tempo. Meu pai já se programava para a viagem de sua
vida. Uma viagem que mudaria nossas vidas para sempre.
Minha
mãe desesperada tentou me abortar algumas vezes, mas parece que quando o
destino nos prega uma peça ele não sossega até deixar tudo do jeito que quis.
Destino de bosta.
Fui
forte e resistindo durante nove meses na barriga de minha mãe eu quis nascer
antes do tempo. O mundo já me impressionava antes mesmo de colocar minha
carinha pelas pernas de minha mãe. Então três dias antes de nascer chutei tanto
a barriga dela que a coitada subiu uma ladeira imensa e bem inclinada da rua
onde morávamos. Fiz durante os três dias que se seguiram e quando ela chegava
ao hospital o médico filho da puta mandava voltar dizendo que não faria um
parto cesariano, pois ainda não tinha rompido a bolsa. Até que no quarto dia
ela bateu o pé firme e não voltando para casa fez o doutor me tirar daquela
barriga com um parto cesariano mesmo, gritando como um condenado, mas feliz por
ver a claridade fora da barriga. Passei longe de boceta já no meu nascimento.
Meu pai
contou a ela que no dia que nasci, correu até o hospital e me viu chorando no
berçário através do vidro que nos dividia. Vidro esse que virou uma vida
inteira. Mas ele fez um pouco mais e me registrou como seu filho com um nome
que devo agradecer todos os dias.
A vida para mim nunca
foi fácil e nem lá grandes coisas. Antes eu acreditava que a felicidade
existia, mas estava me iludindo que felicidade são apenas momentos bons que
vivemos.
Conheci muitas pessoas
bacanas na trajetória de minha vida. Fiz amigos e muitos inimigos também.
Conheci muito cara bacana que viveria uma vida inteira, mas percebi que quando
estamos com alguém devemos viver apenas o momento em que estamos, pois o
presente sim existe de verdade. O ontem é uma merda do qual iremos nos lembrar
sempre, e o futuro é somente para nos deixar malucos acreditando que ele vai
acontecer.
Eu me estrepo todos os
dias, mas ainda continuo inteiro. Esperando em algum momento um sinal de Deus
para olhar para mim como um bom cara.
Dias sim, dias não eu
vou sobrevivendo sem um aranhão da caridade de quem me detesta como já dizia o
mestre Cazuza. Mas se estivesse lá no céu e alguém chegasse no celeiro das
almas perguntando se eu queria nascer a resposta seria um SIM bem grande, pois
o que vale é o que aprendi e quem eu realmente me tornei.
Tenho um revolver
carregado de mágoas, mas também tenho palavras doces que espalho pelo mundo.
Mas quem não tem nessa droga de mundo?
Mas não pense que baixei
a minha guarda, pois eu ainda estou aqui para lutar pelo que quero em minha
vida. O relógio ainda gira para mim, porque eu sou o cara.
Texto: Meu Relógio
De: Diógenes Ramos.
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