Eu não era uma pessoa normal. Certamente isso pesou
muito para que eu fosse tirado da terra. Eu era livre de regras, de rótulos e
do medo. Na minha pobre lógica eu buscava apenas ser feliz.
Sinceramente eu não entendo como
as pessoas defendem uma ideia e matam por ela.
Não entendeu nada não é mesmo? Calma, eu explico.
Eu era o primeiro de minha turma, tinha uma
inteligência assustadora, era um exemplo para minha família. Minha mãe só
recebia elogios sobre mim. Estava prestes a concluir minha faculdade, e sim, eu
era muito bonito, pelo menos algumas pessoas diziam isso (risos). Ah, já estava
me esquecendo, eu, dentre todas essas qualidades, também era gay.
Era uma manhã linda de domingo. Decidi passear no
parque com uns amigos e meu namorado. Tinha vinte dois anos quando isso
aconteceu, o sol estava lindo aquele dia, eu lembro o cheiro do verde acredita?
Os pássaros cantavam livremente, então de repente, sem que ninguém esperasse
aquela reação, eu tirei os chinelos e saí correndo pelo jardim. Todos me
olharam e riram. Alguns pensaram que eu estava ficando louco, outros que estava
bêbado, mas eu só estava feliz. Felicidade são os momentos bons da vida, e
aquele era um dos meus melhores.
Eu me lembro que meu namorado veio até a mim e me
beijou na frente de todos que estavam ali. Aquele beijo foi lindo, então eu
falei:
-Me beija de novo, pois estou adoecido de amor.
Sem se importar com quem estava ao redor ele me
abraçou e fez mais uma vez e eu correspondi. Depois olhou nos meus olhos e
disse:
-Fica comigo para sempre que eu viro o vento, me
escolhe, me ame, me leve.
Eu estou tentando esquecer essa cena, mas
desculpe-me, esse registro vai ficar gravado para sempre em minhas recordações,
pois foi um dos últimos de minha vida.
Naquela mesma manhã eu morri de uma forma brutal. E
sabe qual foi o meu erro? Eu era gay. A minha felicidade não me deixou perceber
que entre as árvores, uma sombra escura observava minhas atitudes. Eu nunca me
preocupei com o ser gay e nem com o que os outros fossem pensar. Dos meus
problemas, esse era o menor. Eu sou o que eu sou e isso para mim bastava, mas
não é assim que a maioria pensa.
Eu só queria que esse câncer social fosse extinto antes que aconteça com outros o que aconteceu comigo.
Eu me lembro que fui pegar uma água. Meus amigos
ficaram deitados na grama. Caminhei sorridente entre as árvores até chegar a
outra parte do parque, e sem que eu percebesse, aquela sombra me seguiu, quando
estava quase alcançando o outro lado, uma voz atrás de mim disse que eu não merecia
estar sobre essa terra. Quando me virei senti uma pancada muito forte sobre
minha cabeça e caí no chão. Não conseguindo me mexer ouvia apenas uma voz muito
distante dizendo que eu deveria morrer e não viver para contar história, pois "bichinhas" como eu não deveria nem ter nascido. Então senti mais duas pancadas
sobre minha cabeça e apaguei para sempre.
Não deu tempo de gritar, não deu tempo de pedir
socorro e eu fiquei ali jogado no chão, com a cabeça toda ensanguentada e o
socorro de que precisava só veio quando os meus amigos sentiram minha falta e
foram me procurar, mas já era tarde demais.
Eu morri aquele dia, mas não foi só eu, minha
família, meu amigos e os meus sonhos.
Não morri somente por ser gay, morri porque eu
aceitei ser feliz.
Cuidado! Infelizmente ainda têm muitos desses por ai
e não quero que aconteça com você o que aconteceu a mim.
Texto: Monólogo De Um Assassinado
De: Diógenes Ramos
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